Dilma na ONU, MAVs na rede
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Neste momento, bomba no Twitter a hashtag #SOSCoupInBrazil, em primeiro lugar nos Trending Topics, a lista de assuntos mais comentados do momento, com mais de 91 mil tweets. Não há nenhuma hashtag em resposta – a que foi pensada ontem, usada por umas poucas centenas, foi #DilmaLiesAtTheUnitedNations, tão grande que só faltou ultrapassar o limite de 140 caracteres.
É óbvio que 99% das mensagens são feitas por bots (“robôs”, perfis criados em massa por código apenas para fazer peso nos Trending Topics). Mas isto revela a força e organização da esquerda para criar narrativas, ainda mais na era em que narrativas voltam a ter uma força tão bruta quanto em sociedades ágrafas.
O Twitter e as redes sociais mostram que vivemos no tempo da tradição oral, mas (mal) escrita por milhões de mãos contando mal os pedaços mal encaixados de uma história.
Dilma Rousseff discursa hoje na ONU. O embaixador brasileiro Antonio Patriota barrou ditatorialmente os deputados José Carlos Aleluia (DEM) e Luiz Lauro Filho (PSB) de acompanharem a fala da presidente, liberando credenciais apenas ao prédio, mas não ao plenário. Algo absurdamente grave, pois o PT está tomando o Estado como propriedade particular do partido também a nível internacional.
A comitiva petista é tão cara quanto aquela usada quando da posse do papa Francisco, quando Dilma Rousseff, não católica e devota da pouco conhecida Nossa Senhora de Maneira Geral, malgastou € 125.990,00 (R$ 324 mil) em viagem a Roma, talvez para amealhar alguns votos católicos para sua reeleição, talvez porque preferiu levar o então ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para uma viagem semi-turística à cidade, tanto que preferiu não se hospedar na luxuosíssima embaixada brasileira, que seria completamente gratuita.
O caso chocou até o jornal espanhol ABC, acostumadíssimo com a ostentação do rei Juan Carlos, que ficou abismado com a forma como Dilma Rousseff torra o dinheiro do trabalhador brasileiro.
Diga-se, Mercadante também estava em Nova York quando Dilma esbandalhou R$ 22 mil por dia (32,5 salários mínimos por dia, ou 700 Bolsas Família) na opulenta suíte da Tiffany em Nova York, o que talvez explique por que Dilma investiu o dinheiro do brasileiro no pavoneamento desbaratado.
A suíte Tiffany é equipada com três quartos, lustres de cristal na sala e equipe de mordomos que falam português. Dilma também queria a suíte presidencial, ainda mais cara, mas esta já estava ocupada. É a presidente que já considerou suítes presidenciais de 81 m² “acanhadas”. É a presidente que hoje só consegue discursar em entregas do Minha Casa, Minha Vida (basicamente, a única coisa que faz, hoje, fora tentar fugir do impeachment), já que ao entregar casinhas minúsculas não recebe vaias e seus diplodocos podem controlar a platéia.
A resposta de Dilma à torrefação de dinheiro público, naturalmente, foi colocar tais gastos em sigilo, sob olhar plácido dos vigilantes jornalistas investigativos brasileiros.
Desta feita, a comitiva é formada por 52 pessoas. Como conta O Antagonista, “o prejuízo de US$ 100 mil pelo cancelamento da reserva de Dilma no Plaza Athénée é troco se comparado com o gasto total da missão”. No Vaticano, a presidente havia reservado 52 quartos em um hotel de luxo e fez uso de 17 carros em sua estadia de 3 dias no Vaticano. Mais do que o próprio papa.
Agora, sob risco de um impeachment desejado por 68% da população (e isto são dados do Datafolha), a comitiva “do governo” conseguiu levar militantes do MST para fazer barulho em Nova York. Com o dólar a R$ 3,58, é difícil imaginar como “sem terras” estão conseguindo ir à caríssima Nova York – isto para quem acredita que quem veste camiseta do MST não possui terras, que o PT tirou milhões da miséria (até mesmo lhes dando R$ 2), que manifestação pró-PT tem povo, e não sindicalistas pagos.
Também há alguns ricaços nas ruas nova-iorquinas rendendo loas a Dilma. Chamá-los de “esquerda caviar”, é claro, é fascismo e discurso de ódio.
A tônica do discurso está perfeitamente uniformizada, tanto nas ruas quanto nas redes: a velha logorréia de que o seu impeachment é um “golpe”. Todos os discursos são reduzidos apenas à repetição robótica e irrefletida deste bordão justamente para evitar que a defesa de Dilma (das pedaladas, do petrolão, da compra de silêncio de delatores, da compra de silêncio de delatores que tentaram comprar silêncio de delatores, da indicação totalitária de Lula para um ministério para fugir da Justiça, da compra e venda de cargos e ministérios para salvar o impeachment etc etc etc) caia em alguma contradição.
O que chama a atenção no momento é a dominação de narrativas que o PT, mais organizado do que qualquer crime organizado, está conseguindo impor, até a nível internacional. Nos jornais estrangeiros só se lê contra o Congresso, quase sempre a se aliviar a barra de Dilma (“se Tiririca é ruim, como pode votar pelo impeachment?!”). Nas redes, a verborragia de golpe não possui um contraponto organizado, apenas uma meia dúzia de pessoas sem alcance tentando fazer hashtags mal preparadas que ninguém lê.
Nesta situação, qualquer analista estrangeiro que tente descobrir o que está se passando no Brasil só conseguiria achar que Dilma Rousseff é uma coitada, honestíssima, mãe dos pobres, que está mesmo sofrendo um golpe de um gigantesco movimento fascista brasileiro que quer criar câmaras de gás e pelotões de fuzilamento nas ruas. Parecidos com aqueles dos governos apoiados pelo PT e com verbas com o dinheiro brasileiro.
Sem conhecimento dessa guerra de narrativas, a chamada infowar, e sua versão contemporânea sem a verticalização da mídia, a guerra em rede, conhecida por netwar, qualquer brasileiro que conheça, por óbvio, melhor a situação do Brasil do que o palpitariado estrangeiro, ainda que o mais bem intencionado, fica refém de não ter como mostrar que a Avenida Paulista e tantas outras lotadas de pessoas exigindo o impeachment da presidente mais corrupta da história, do partido apoiador de ditaduras, da implantação de um totalitarismo latino-americano com todo o continente se tornando satélite da ditadura de Cuba.
Pedaladas? Mensalão? Petrolão? Indicação para ministério? Compra de silêncio? Delatores acusando a presidente? Campanha com contas rejeitadas por unanimidade pelo TCU? Eleições em urnas que podem trocar de voto? Rejeição recorde no mundo? Apoio a ditaduras? Obras hiperfaturadas em países totalitários? Dinheiro, poder e apoio ao eixo do mal do terrorismo mundial? Campanha feita com propinas? Maior crise econômica que nos fez retroceder 2 décadas graças aos “programas sociais”?
Nada disso aparece a quem quer entender o Brasil, mas só possui a realidade muito bem filtrada pelos jornais internacionais e pela manipulação de narrativas no Twitter. Basta afirmar “golpe” e escrever repetidamente uma hashtag e de repente o problema do Brasil é o fascismo de quem se veste com as cores do país pedindo o cumprimento da lei inclusive pelas maiores autoridades.
As pessoas honestas do Brasil, hoje descobrindo que sua honestidade é justamente o que foi demonizado como direita, liberalismo, conservadorismo ou mesmo sob o peso da palavra “reacionário”, entendem de justiça, mas não entendem de comunicação. O mundo ainda é refém do discurso Márcia Tiburi.
Sem conseguir planejar o que deve ser uma explicação unificada para algo tão complexo quanto uma pedalada fiscal, sem criar hashtags simples e usadas por todos (e não por uma meia dúzia), sem entender de táticas de SEO (Search Engines Optimization, o que os publicitários e vendedores mais cuidam para faturar com o Google), sem preparar respostas ao que dirão jornais, sobretudo jornais internacionais (estes que são lidos de verdade), sem dar seu apoio e suporte, inclusive financeiro, aos poucos gatos pingados cuidando de quebrar a espinha dorsal da narrativa petista, todo o seu senso de justiça pode dar com os burros n’água.
Desde que reportagens mostraram a existência dos chamados MAVs, aqueles treinados pelo próprio PT em Mobilização de Ambientes Virtuais, virou comum que cada vez que alguém discute com um petista na internet chame o debatedor de “MAV”, com até pessoas sem a menor importância ou relevância garantindo que está “sofrendo ataques de MAVs”.
MAV, o próprio nome indica, não é o chato analfabeto que discute com você num post que ninguém lerá. MAV é alguém treinado, é especialista em SEO, netwar, mobilização e divulgação das notícias certas e que faz as indesejadas sumirem, é um cabra que ganha para escrever com o mínimo de erros de gramática permitidos para um petista, é um líder de perfis que sabe criar hashtags que bombarão, enquanto toda a nossa busca por coerência não aparece a quem quer entender o que acontece nas redes, é alguém capaz de trabalhar e liderar equipes em agências de publicidade, sabe agregar ao invés de ser chato e burro, é muito mais um cavalo ou bispo no xadrez do que um peão (muitas vezes os peões são estes perfis-robôs, já que nem quem votou em Dilma tem mais saco para defendê-la).
O discurso de Dilma na ONU (mesmo que tenha recuado e não falado em golpe), os bem alimentados, agasalhados e remunerados nas ruas de Nova York falando em “golpe” e os Trending Topics do Twitter mostram que a direita está completamente certa – mas seu senso de justiça será a última coisa a ser ouvida, sob escombros de acusações de “golpismo” criadas por uma meia dúzia de profissionais de comunicação.
O mensalão, afinal, não começou justamente em agências de publicidade? Que isto sirva para “acusar o golpe”. Sem duplo sentido.
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