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O Ministério da Felicidade Virtual

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Falando em Big Brother, o governo quer que você seja feliz. O governo faz de tudo para que você seja feliz. O governo, não querendo saber de lucro, é mais bonzinho: pega todo o seu dinheiro e cria órgãos de funcionários públicos que cuidarão da sua felicidade por você.

Ser feliz, até pouco tempo atrás, era “distribuir renda”. Mesmo sem entender economia, parece que a população percebeu que foi exatamente isto que causou a crise de 2015 (só a Dilma parece crer em uma “crise internacional”, na qual nem Lula acredita). Hoje, ser feliz virou outra coisa.

Se felicidade é um conceito escorregadio, que tal “direitos humanos”? Ser feliz em 2015 é proteger os direitos humanos. Sobretudo (ou, na verdade, única e exclusivamente) o tripé gênero-raça-sexualidade. Só se alguém falar internacionalmente também se inclui o “multiculturalismo” para ignorar justamente este tripé e defender o islamismo.

censorship internetO governo (ou o que deve ser entendido quando se usa este eufemismo: ou seja, o PT) vai criar o “Monitor dos Direitos Humanos” para as redes sociais. O que são “direitos humanos”? Pôr estuprador na cadeia não é “direito humano”? Passar a mão na cabeça de bandido é “direito humano”? Como se vê, é um conceito vaporoso em definição (pode significar algo e o seu oposto), exatamente o tipo de conceito tão bem usado pela esquerda para favorecer sua agenda, como se fosse algo “universal”.

Ok, mas como se fere os tais “Direitos Humanos” na… internet? Com post de formação de quadrilha? Com gente se juntando para agredir outras pessoas? Com a defesa de regimes genocidas, como o socialismo, o fascismo ou as teocracias islâmicas? (nem falemos em “jihadistas”…) Com a busca por posts que visam cometer crimes de verdade, reais e concretos atentados contra a integridade de seres, ehrr, humanos?

Não parece ser o caso. O “Monitor dos Direitos Humanos” é apenas monitorando “comentários ofensivos contra negros, mulheres, indígenas e à comunidade LGBT”. Judeus estão no meio? Não, judeu que se lasque. Alguma outra vítima não eleita pelo tripé? Aguardem, logo estarão falando em “islamofobia” (a defesa de jihadistas veio antes).

O Brasil atingiu 64 mil homicídios ao ano. Isto parece um atentado aos tais “direitos humanos”. Mas os Direitos Humanos (letra maiúscula, pois é uma ideologia com CNPJ) são um grupo específico de doutrinas, que apenas utiliza um nome que parece o que todo mundo defenderia (direitos de seres humanos, afinal) para defender algo muito específico.

censorship worst thingOs Direitos Humanos, a ideologia, não estão preocupados com assassinato, estupro, uso de crianças pelo crime, com seqüestro, com tortura. Estão preocupados com comentários ofensivos. Receber ofensa é algo muito ruim, ainda mais por características físicas. Mas é parte da vida. Não costuma deixar marcas, e os mais sábios sabem que a) quanto mais sábios forem, mais se tornarão alvos de ofensas; b) saber lidar com elas é a própria sabedoria, e às vezes um bom mote para iniciar uma carreira de satirista ou escritor de literatura underground.

Comentários ofensivos são realmente obras de mongoloidismo adolescente. Usualmente, da “uniformidade da vida em rebanho, o espírito estúpido racista” de que nos fala Erik von Kuehnelt-Leddihn. Mas, além de definir o que é felicidade e o que são direitos humanos, como definir o que é “ofensa”?

Tomemos os gays como exemplo. Religiões que buscam uma ordem familiar costumam rejeitar relações homossexuais. Um cristão/judeu/muçulmano (ok, excluamos os muçulmanos) dizendo que uma relação homossexual é pecado é “ofensa”? A mesma “ofensa” de planejar atacar fisicamente um gay na rua com lâmpadas fluorescentes apenas por ser gay? Não são duas coisas completamente distintas sob o mesmo e perigosíssimo rótulo? Aquela crença pós-estruturalista de se focar em significantes vazios de significados?

O governo (ou seja: o PT), então, vai compilar o que estamos dizendo na internet. O Big Brother quer que nós sejamos felizes, sem brigas, sem ofensas. Não ofender é o primeiro passo para o fascismo. Ou, quando é ainda mais bem feito, para o socialismo. Impeça o que é ofensivo – ou seja, o que alguém não quer ouvir – e você impedirá todo o pensamento que se oponha ao seu projeto de poder total.

Não foi senão George Orwell quem disse: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.” Se o Monitor de Direitos Humanos entrar para nos monitorar, tudo o que poderemos falar será publicidade para o governo. Ou para seu Partido. Ou para a ideologia que ultrapassa suas fronteiras.

Como dar tamanho poder para algum burocrata, usando o Estado como órgão do seu Partido (exatamente onde começa o totalitarismo), usando conceitos escorregadios, e incapazes de levantar sobrolhos de jornalistas que deveriam ser mais treinados em suspicácia, como “direitos humanos” ou “ofensa”?

Por ora, será apenas um “catálogo” (por que o governo precisa catalogar o que se escreve pela internet? quanto do dinheiro do pagador de impostos está financiando estes funcionários públicos? quem definiu que tais pessoas têm o direito de “catalogar” estatalmente o que se diz por aí?). Mas qual o único passo óbvio seguinte?

Quem está por detrás do projeto do Labic (Laboratório de Imagem e Cibercultura), trabalhando a pedido da antiga Secretaria de Direitos Humanos (SDH), da Presidência da República, é Fábio Malini.

fabio malini épocaFábio Malini é um coordenador desinteressado, apenas alguém com grandes preocupações sobre violência por aí? Não, Fábio Malini é um dos autores do livro @ internet e #rua, com Henrique Antoun. É o livro que mais trabalha os conceitos de infowar netwar antes do meu. Trata-se, portanto, de um estudioso de uma tática de mobilização política e criação de espalhafatos através da internet. Seu objetivo é reunir multidões marchando após ouvirem boataria e palavras de ordem (como, por exemplo, aumento de 20 centavos no preço das passagens de ônibus) e então causar pequenas revoltas que modifiquem leis.

A escritora do prefácio de seu livro, Ivana Bentes, não é senão a atual Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (whatever does it mean), o cérebro por detrás do Fora do Eixo. Enquanto ativistas como Pablo Capilé são apenas a infantaria que cuida de arrumar brigas pela causa na internet, Ivana Bentes e associados (além de Malini e Antoun, podemos citar Alê Youssef, Cláudio Prado, Pedro Alexandre Sanches e Bruno Torturra) são as mentes que arquitetam intelectualmente o novo modelo de revolução 2.0. Bentes, aliás, é especialista em Antonio Negri, o homem da revolução pela multidão, do “comunismo dentro do capitalismo”. Exatamente o mundo em que vivemos.

Despiciendo notar que foram estes mesmos protagonistas, entre alguns nomes secundários, que escreveram, em 2011, o e-book Movimentos em Marcha, em que, através de um brainstorming, mapearam que as (então) futuras manifestações que colocassem as pessoas em marcha, após o fracasso da Marcha da Maconha e o sucesso da Marcha da Liberdade (a marcha pelo direito de protestar pela maconha), deveriam se concentrar em um tema: transportes. Ligue os pontos entre os dois fatos e entenderá exatamente quem orquestrou aquele junho de 2013. Antes e depois de 2013 o movimento de massa persiste, como explico em meu livro.

A divisão de poderes imposta pelo Iluminismo implica uma suposta vigília de um poder pelo outro. Partidos como o PT provaram cabalmente a facilidade que é tomar os 3 poderes ao mesmo tempo e suprimir os checks and balances, quaisquer freios e contrapesos ao poder legisferante, aplicador e julgador a um só tempo. É Antonio Gramsci aplicado.

ivana bentes cultSe havia uma espécie de “auditoria externa” com o poder da imprensa e do povo fazendo pressão, que tal também tomá-lo e formar uma maçaroca nas ruas, legislando, executando, julgando e também divulgando a narrativa? É a especialidade de Malini, de Bentes, de Antoun. É Antonio Negri aplicado.

Se nem sempre conseguem tomar as ruas como fizeram em 2013 (e até o título de seu livro, @ internet e #rua, mostra o que queriam), não significa que seu modelo de política através da revolta instantânea, da mobilização de massas, do poder do escarcéu repentino, da criação de fanáticos momentâneos está anestesiado.

Basta ver como os subprodutos de suas movimentações continuam na ativa, concentrando todo o poder em uma meia dúzia de mãos que se auto-declare ser “o povo”. Ver como os foradoeixeanos entopem cargos em ONGs (ou O”N”Gs) como a Amor em SP. Por exemplo, a campanha de Dilma Bolada (atualmente de mal da presidente oficial, depois do corte de sua polpuda mesada), que usa o mesmo poder de multidão (no caso, virtual – exatamente o que Malini irá fazer com seu “monitoramento”) para derrubar páginas de adversários. Com sua concentração de poder através da denúncia em massa, como nos alerta a página Aventuras na Justiça Social, o projeto de Jefferson Monteiro apagou do Facebook páginas com milhares de seguidores, mas adversárias do PT, como “Orgulho de ser Hétero”, “Luana Bastos”, “Bolsonaro Zueiro” e “Humans of PT”.

A velha acusação de “Direitos Humanos” ou outra coisa escorregadia que seja para atingir o pensamento único permitido. É nosso Ministério da Felicidade e Verdade. São nossos totalitários da pós-puberdade. Para onde Fábio Malini afirma que “denunciará” os perfis contrários ao seu modelo de felicidade tutto nello Stato? “Disque 100 e Humaniza Redes”. Estes bastiões do poder não-oficial de punir cada vez mais oficialmente.

Para que outra coisa poderia servir o “monitoramento” de Malini através de conceitos de membranas porosas como “ofensa” ou “Direitos Humanos”, senão para prejudicar inimigos do seu pensamento? Isto é ainda o que fazem apenas pela netwar na rede. Imagine o que fazem com as celebridades que cooptam para seu discurso e método – como os “ataques racistas” repentinos de personalidades que nunca os sofreram e, não mais do que do dia para a noite, causam um fuzuê transcontinental que justifica um “Humaniza Redes” ou um “Monitor dos Direitos Humanos” da vida.

Este é só o arranjo do que é a nova forma de “democratização da mídia”, de luta supostamente “contra o racismo, o machismo e a homofobia” e o futuro painel de poder que se desenha antes de “Conselhos Populares” ou outra nomenclatura da moda dividirem o poder com Legislativo, Executivo e Judiciário da velha guarda. A revolução não será televisionada – será tweetada, mas ai de quem for contra.

Fábio Malini praticou um ato falho, um lapsūs linguæ, ao declarar que também irá fichar “ativistas” (não se sabe o que isto seja, mas talvez sejamos nosotros, comuns mortais).

Claro, ninguém perguntou o que fazer caso Fábio Malini nos ofenda com seu projeto de polícia política do pensamento. Ou de qualquer crime (ou “ofensa”) que não se encaixe nesta agenda. “Achei ofensivo, apaga.” A quem iremos recorrer? Who watches the Watchmen?

Para mais informações sobre esta forma de fazer política que ainda pode definir o nosso futuro, confira meu livro, Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil, em que esta forma de fazer política do Fora do Eixo, que todos acreditam que foi momentânea apenas em junho de 2013, é explicada em mais detalhes, com suas conseqüências para o futuro.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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