Vítima do réveillon em Colônia é acusada de racismo
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Uma forma costumeira de se interpretar notícias de violência, de furtos a terrorismo, é através da clave das classes sociais em luta.
Desta forma, a sociedade perfeita irrompe-se no horizonte através da unificação e planificação de todos os indivíduos, e os crimes derivam-se de uma falha nesta gestão uniformizante.
Todo crime, de furto e estelionato a estupro e latrocínio, só ocorreriam quando as pessoas fizessem justiça com as próprias mãos quando o Estado desacerta em sua função única: forçar a igualdade. Dessarte, os verdadeiros crimes só poderiam existir contra a igualdade e contra o Estado: crimes como a sonegação e a evasão de divisas são tratados com muito mais gravidade e ranger de dentes do que o assassinato de uma pessoa rica por uma pessoa pobre.
Esta visão, derivada do Iluminismo de Rousseau, nega, portanto, o mal humano. Mal seria apenas a confluência social sem um planejamento central, via de regra através de abstrações como democracia, razão, empoderamento, bem-estar (a Revolução Francesa imortalizou o lema liberté, égalité, fraternité). É o que Theodor Dalrymple critica em seu obrigatório artigo A Pobreza do Mal:
A única causa inquestionável da violência, tanto política como criminosa, é a decisão pessoal de a cometer. (Excluo aqueles casos raros nos quais está em jogo uma malformação neurológica ou distúrbio fisiológico). Deste modo, qualquer estudo sobre a violência que não leve em conta os estados de espírito é incompleto e, na minha opinião, seriamente insuficiente. É Hamlet sem o Príncipe.
Evidentemente, os estados de espírito têm também suas causas. Mas a procura por causas remotas ou supostamente últimas constitui freqüentemente o meio pelo qual evitamos a consideração de causas próximas, sempre inconvenientes ou desconcertantes. Tentamos esvaziar o mundo do seu conteú- do moral atribuindo tudo a forças impessoais que, naturalmente, só nós, espertos como somos, podemos remediar – logicamente, tão logo nos dêem o poder para tal.
Ironicamente, contudo, o hábito de se enxergar pessoas como exemplos de abstrações políticas ao invés de se olhar para a sua realidade concreta como indivíduos foi umas das causas mais poderosas da assustadora violência política do século passado. Matar um inimigo em virtude da raça ou classe à qual pertence é mais fácil do que matar o Sr. Smith ou o Sr. Jones. A própria extensão do massacre servia para assegurar àqueles que o cometiam de que estavam a serviço de algum propósito mais elevado, pois, caso contrário, jamais teria sido levado a cabo.
Casos como o do réveillon em Colônia, na Alemanha, fazem muitos comentadores sociais torcerem suas sinapses para tentar lidar com o problema do mal (tão simples, difícil e universal como todas as narrativas mitológicas) através do esquematismo iluminista. Por ser esquemático, crêem-se “racionais”, como se fossem usuários da razão mais avançados do que um único monólogo de Hamlet.
Para tal esquematismo, uma terrível noite como aquela, em que centenas de mulheres foram assediadas sexualmente por mais de mil homens estrangeiros, só pode ter acontecido por causa da desigualdade. Como quando Liana Friedenbach e seu namorado Felipe Caffé foi assassinada pelo então menor Champinha, e o professor de Direito Penal Túlio Vianna escreveu sanguinariamente: “Liana e Felipe, em sua sede de aventura, foram vítimas da desigualdade brutal que tanto os distanciavam de Champinha, seu suposto algoz e atual personificação do demônio segundo a mídia-urubu que a cada dia infesta nossos noticiários.”
O que os confunde no caso de Colônia, negando a decisão individual de cometer o mal, é que as classes que consideram as eternas “coitadas” e as classes “opressoras” e “elitistas” (para quem acredita em classes, e não em indivíduos) estão misturadas.
No esquematismo moderno, pobres são explorados pelos ricos. Estrangeiros são classe inferior para os europeus. Negros são oprimidos pelos brancos. Ou, ainda mais modernamente, com a esquerda pós-Marcuse e Foucaut, mulheres são vítimas dos homens. Gays sofrem preconceito dos héteros. E ainda mais modernamente, travestis são ofendidos pelos “cis”. É o velho modelo de enxergar o mundo através da ótica curta de palavras como exploração, imperialismo, colonialismo e da politização forçada de conceitos como racismo ou preconceito.
Mas e quando as vítimas são mulheres, alemãs (um percentual bem alto delas loiras de olhos azuis), que vivem em uma cidade rica (seu lado Ocidental, que não passou pelo totalitarismo socialista) do país mais rico da Europa, e seus agressores são justamente os chamados “refugiados”, imigrantes, em sua maioria muçulmanos, praticamente em sua totalidade anti-cristãos, nenhum deles branco?
homem mata mulher 🙁
mas ele era negro ela branca 🙂
ele rico ela pobre 🙁
gay ela hetero 🙂
cis ela trans 🙁
a arma era zarabatana 🙂
— zambinas (@zambininha) August 27, 2015
Uma vítima da noite em Colônia, chamada apenas de Selina, de 26 anos, deu uma entrevista ao canal de TV SWR relatando como foi aquela noite nojenta. Além de também descrever como os agressores em massa tocavam em seus seios, nádegas e outras partes (com ainda mais azar para as mulheres que estavam de saia), Selina afirma que eles as chamavam de vadia (“bitch”) e puta („Schlampe”), embora não falassem mais nada de alemão. Falar com a horda em alemão produzia efeitos nulos.
Selina afiança que os agressores não queriam apenas roubar celulares, como muitas pessoas aventaram. Ela assegura que eles queriam mais do que celulares: “Eles tinham algo mais em mente. Definitivamente. Estou 100% convicta de que eles queriam algo mais.” Perguntada a respeito do que queriam, sua voz toma notas escuras: “Humilhação. Arrancar minha dignidade. Eu não sei. Me deixar com medo. Satisfação de desejo sexual… Eu não faço idéia.”
Uma frase de Selina gerou reações desproporcionais por parte dos subservientes ao pensamento classista: que eles seriam muçulmanos. Se o estupro e o machismo são os crimes por definição do novo modelo de esquerda baseado em desigualdades sexuais, toda a “problematização” da chamada cultura de estupro é ignorada pela esquerda (ou mesmo defendida) se a cultura em questão for de muçulmanos êmulos da tradição ocidental. Por medo de recair em outro “crime de desigualdade”, o racismo, até mesmo os protestos contrários aos “rapefugees” dizem ser contra o “machismo” e “sexismo”, e não a cultura e religião específicas que o promovem. Também falam contra o “fascismo”.
Pessoas na internet, no Ocidente nascido da auto-crítica, criaram um novo tormento para a jovem Selina: fizeram um vídeo asseverando que ela é uma racista e uma radical de extrema-direita. Após um trecho de sua entrevista, citam uma foto do dia seguinte da noite de horror em seu Instagram com uma ironia, dizendo que ela estava feliz. Indicação auto-evidente?
O vídeo ainda mostra seu nome completo e o endereço de seu trabalho, tirados de sua página do Facebook. Selina é acusada por não enxergar nenhum branco (sic) entre os agressores, por dizer que eles tinham “pele escura” e pareciam “do sul”, além de falarem majoritariamente “árabe”.
O vídeo se tornou viral, foi visto mais de um quarto de milhão de vezes e foi postado na página de um pregador islâmico tido como radical pela imprensa alemã. Hoje ela conta novamente à SWR que está assustada, e vem recebendo ameaças no trabalho e ataques pela internet.
É curioso pensar em qual tipo de pessoas, fora os próprios muçulmanos, usaria de tal discurso contra Selina e atacaria seu lado, digamos, “retrógrado” por não gostar de ser assediada sexualmente por muçulmanos. Estas pessoas são conhecidas: os progressistas. Justamente aqueles que abraçam modernamente o chamado feminismo, o movimento negro, o movimento gay. Três coisas mais desprezadas do que um camelo pelos muçulmanos – mas estes imigrantes são sempre defendidos por progressistas que acreditam em conceitos como “imperialismo” ou “colonialismo”.
Total de feministas indignadas com a nova sevícia de Selina até o momento: zero.
Alguns enxergam o mal pelo que ele é – algo que é sempre tentador no ser humano, mas que é refreado por toda a cultura e a civilização que foram criadas para que os homens não fossem meros apetites amorais, e colocassem um freio às suas vontades.
De todas as mitologias e religiões à parcela séria da psicologia e do Direito Penal, a busca é sempre por uma forma de convivência e mecanismos de coação que impeçam o mal sem subtrair dos homens suas liberdades mais importantes.
Já alguns rendem-se ao cabresto moderno da visão progressista, de que do sexo à cor de pele, de rendimentos econômicos à religião, tudo deve ser “consertado” por via estatal através de uma suposta função do Estado (na verdade, sua suposta única função): corrigir as desigualdades, punindo os supostos “preconceituosos” que não gostam das “classes inferiores”. Ainda que não sejam pobres trabalhadores explorados – e sim machistas, homofóbicas, fanáticas religiosas e tudo o que progressistas mais odeiam.
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