O cuspe de Jean Wyllys não foi criticado pela mídia?
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Pelas redes sociais, já é consabido que os personagens mais extremados do Congresso nacional, o ex-BBB Jean Wyllys e o militar Jair Bolsonaro, ambos do Rio de Janeiro, geraram quizomba ontem, quando o socialista Wyllys, após votar pela manutenção de Dilma Rousseff, cuspiu em Jair Bolsonaro e saiu correndo.
Destaque-se: o fato é consabido pelas redes sociais. A notícia parece quase inexistente onde o jornalismo realmente move a população: na televisão. E mesmo no jornalismo impresso.
Na internet, sobretudo Facebook e Twitter, comenta-se de tudo, sobretudo do que é mais engraçado, filão para o qual Jean Wyllys e Bolsonaro são ótimos quando próximos. Na TV, o que é Trending Topic vira notinha de 7 segundos em jornal.
Entretanto, é exigir demais da inocência e bunda-molice de quem conhece as cobras criadas que lidam com política no Brasil acreditar que o fato teve pouco destaque fora das discussões de internet pela sua irrelevância. Se fosse Jair Bolsonaro que tivesse dado uma cusparada em Jean Wyllys – muito menos do que isso, se tivesse lhe sacudido, dado um empurrão, uma ombrada, mostrado o dedo, qualquer coisa menor – será que a suposta “irrelevância” de Bolsonaro seria suficiente para a imprensa fingir que o fato não ocorreu?
https://www.youtube.com/watch?v=oXsAr74q9Ws
Ao se procurar pelo nome de Jean Wyllys no Google hoje, seu nome nem gera o quadro “Notícias sobre”, que surge quando se busca o nome de alguém que está gerando muitas notícias recentes. Encontramos sua Wikipedia, suas redes sociais, uma notícia do UOL aparentemente mais moderada e “neutra” (“Jean Wyllys cospe em Bolsonaro e diz que faria de novo”), sua lista de colunas na Carta Capital, aquela que obedece a Lula, uma curiosa notícia da Band, também no UOL (“Jean Wyllys cospe em direção a Bolsonaro”), uma notícia de 2015 sobre o PSD tentar sua cassação após bate-boca e uma puxação de saco do Terra de quando ainda era apenas um Big Brother e candidato a virar deputado sem votos suficientes de eleitores em seu nome: “Jean Wyllys diz que entrou no BBB só para estudar”.
Mesmo no noticiário online, não parece que a cusparada de Jean Wyllys tenha chamado atenção. Até mesmo tais notícias são curiosas. No UOL, o socialista Wyllys declara: “Eu cuspiria na cara dele quantas vezes eu quisesse”. Se Jair Bolsonaro cuspisse no ex-BBB e afirmasse que cuspiria em sua cara quantas vezes quisesse, quantas manchetes chamativas sobre sua frase existiriam? Entraria no rol de “frases mais polêmicas” do deputado, constantemente arroladas e na primeira página do Google quando se busca por seu nome?
Logo após colher declarações de ambos os lados, a reportagem do UOL se foca na “provocação” de Bolsonaro, que citou o elogio do deputado ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, personagem acusado de tortura durante a ditadura, cuja defesa tampouco é alguma vez citada.
Nenhum comentário na imprensa, fora Felipe Moura Brasil, sobre o deputado Glauber Braga, do mesmo PSOL do Rio de Janeiro, que afirmou: “Eu voto por Marighella”, autor de um manual para formar terroristas. A comunista Jandira Feghali, ao criticar os “torturadores”, esqueceu de criticar o colega psolista – e também todas as torturas em todos os países socialistas, naturalmente. Pau que bate em Chico não bate em Francisco.
E, claro, a fala de Jean Wyllys como chamar o impeachment de “farsa sexista” (sic) é tratada com a mais plácida naturalidade.
Bolsonaro, por sinal, não reagiu. Jean Wyllys, que parece bastante corajoso para cuspir na cara de Bolsonaro quantas vezes quiser, saiu correndo como uma criança após a cusparada. Não há menção sobre o fato nas notícias que aparecem. Apenas manchetes edulcoradas, como “‘Reagi cuspindo no fascista’, diz Jean Wyllys sobre cuspe em Jair Bolsonaro”. O ex-BBB quase vira um herói.
O difícil é crer que os jornalistas televisivos manteriam o mesmo silêncio sobre o caso aparentemente de pouca monta se fosse o contrário. Basta dar uma rápida consulta pelo Twitter de qualquer jornalista, da Globo News à Rede TV, do Brasil 247 à Veja, após cada declaração de somenos importância e conseqüência praticamente nula na realidade de Jair Bolsonaro, para ver a festa do repúdio coletivo, massacre de críticas até o assassinato de reputações.
Jean Wyllys só precisa dizer que defende a “causa gay” (como se ser homossexual fosse uma sinonímia para ser socialista, pedir cotas, atacar religiões e praticar o vitimismo político) para ganhar efusivos aplausos e desculpas imediatas para qualquer toleima proferida, defendida ou vestida (como se vestir de Che Guevara, que assassinava homossexuais), incluindo o próprio socialismo.
Bolsonaro, por outro lado, talvez precisasse heroicamente salvar uma família de um assalto para então ter alguma notícia infinitesimalmente positiva sobre ele na imprensa. Mas espere: seu filho Flávio Bolsonaro, deputado e pré-candidato à prefeitura do Rio, fez exatamente isso na semana passada e foi massacrado com manchetes como “Flávio Bolsonaro saca arma e atira na Barra, RJ” ou a incrível “Flávio Bolsonaro coloca cidadãos em risco em troca de tiros com bandidos”.
Claro que tentar imaginar Jean Wyllys presenciando um assalto e salvando a vítima assaltada, ao invés de desculpar o assaltante pela desigualdade social, é praticamente impossível, mas imagine-se se ele receberia uma única crítica deste porte.
É o que se chama de infowar, a guerra de narrativas no jornalismo. Pergunte a qualquer pessoa a sua opinião sobre os Bolsonaro e veja se, caso a opinião seja negativa, ela não derive do filtro que o jornalismo coloca antes de sua pessoa. Tente o mesmo com o socialista e veja que qualquer menção positiva é que depende do mesmíssimo filtro.
Brincando de ser o deputado-moda da internet, o ex-BBB parece sempre vencer seu adversário, enquanto o pensamento do povo é majoritariamente favorável ao contrário do que defende o psolista. Resta saber se, graças a isso, vai sair incólume dessa – talvez futuramente até saudado como herói.
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