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Impeachment

O que eu perguntaria se fosse senador

A tarde no Senado foi uma interminável Vale A Pena Ver de Novo de perguntas repetidas a Dilma. Como eu mudaria isso se fosse senador.

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Dilma Rousseff aponta um revólver para a própria cabeça

Dilma Rousseff, em sua espécie de “sabatina” no Senado para se defender do impeachment, está com respostas circulares e sempre repetidas. Não tenho paciência para a polícia, mas se fosse senador, eis como seria minha pergunta:

“Presidente Dilma,

Não importa qual será minha pergunta para Vossa Excelência. Nós sabemos e estamos ouvindo aqui por horas e horas que seriam mais bem gastas jogando Final Fantasy: qualquer pergunta sobre crime, sobre pedalada, sobre números, sobre fatos, sobre lei, será respondida com um roteirinho pronto escrito por vosso advogado e repapagaiado às gaguejadas por Vossa Excelência.

Quando perguntam sobre PL, Vossa Excelência responde falando sobre crise hídrica. Quando perguntam sobre devido processo legal, Vossa Excelência responde falando de Copa do Mundo. Quando perguntam sobre superávit primário e meta fiscal, Vossa Excelência responde falando de Eduardo Cunha. Quando perguntam sobre Lei Orçamentária, Vossa Excelência responde dizendo que Temer é usurpador.

Mano, eu tô aqui pra falar de pedalada, decreto e proximidade de criminoso, Vossa Excelência.

Sendo assim, creio ser mais oportuno torrar o tempo do povo honesto e trabalhador falando de algum barato mais interessante para a tarde de segunda-feira. Então, Vossa Excelência, Vossa Excelência prefere o ataque 4-4-2 com marcação homem a homem ou o 4-5-1 com volante e sem ataque nas laterais?

Caso Vossa Excelência queira mesmo falar de alguma coisa com coisa, eu não tenho nada de novo a dizer, Vossa Excelência. Só queria que Vossa Excelência explicasse umas paradas que não ficaram claras.

Por exemplo, Vossa Excelência fala que está sendo condenada por “apenas” 3 decretos. Como lembrou meu amigo Ítalo Lorenzon, são só três decretinhos de nada que somam 500 bilhões de reais. Meio trilhão, Vossa Excelência.

Isto posto, a senhora toparia aproveitar que estamos aqui no Senado, ficar de joelhos diante daquele maluco ali, o senador Fernando Collor de Mello, se curvar até o chão, pegar o fio desse microfone enquanto dá chibatadas nas próprias costas e, chorando e sangrando, implorar por perdão, aos berros de “Eu te dei um golpe por um Fiat Elba, eu te dei um golpe por um Fiat Elba!” enquanto abraça os joelhos dele?

Porque se não rolar, fica difícil comprar essa ladainha, Vossa Excelência.

Vossa Excelência também diz que se Eduardo Cunha aceitou o processo, ele é que iniciou o impeachment, e não o povo nas ruas. Vossa Excelência, a senhora já procurou no dicionário o que significa “aceitar”? Significa um troço diferente de criar o bereguenaite, Vossa Excelência. Quem fez foi a Janaína, o Hélio, o Miguel. Se o Cunha aceitou, significa que o processo não partiu dele, Vossa Excelência.

Aliás, ele engavetou mais de 30 pedidos de impeachment, e ainda era o articulador principal do governo (ou seja, de Vossa Excelência) na Câmara até quase o fim de 2015, Vossa Excelência. Ou seja: se o cara é o Cão Chupando Manga, isso só atesta contra Vossa Excelência, Vossa Excelência.

E, aliás, Vossa Excelência, ele era só o presidente da Câmara. Só preside as coisas todas. Ele tem a obrigação de seguir o processo depois de aceito. E Vossa Excelência já reparou que o país inteiro está cagando um brioco federal para o tal Cunha?

A senhora também diz que quem tirou foto com ele para registrar o momento é “apoiador” do Cunha. Na página dos cara, no dia seguinte ao impeachment passar na Câmara, tinha uma foto dizendo que agora o foco era fiscalizar Cunha e Temer. Vossa Excelência ainda não reparou que apenas petista e esquerdista tem bandido de estimação?

E, se for assim, vossas fotos do lado de Fidel Castro (pra quem entregou um porto com nosso dinheiro, via Odebrecht), Ahmadinejad, Chavez, Maduro, Putin e esse bando de genocida significa que devemos trancar a senhora numa solitária e jogar a chave fora?

Vossa Excelência afirma sofrer um “golpe parlamentar”. Eu lembro de Vossa Excelência falando isso na ONU. Depois, foi dar um rolê no MoMa, como todo bom refugiado político. E agora, veio aqui no Senado conversar com a galera, tomar um café, falar de cumprir a Constituição. Que porra de “golpe” é esse, Vossa Excelência?

Caso exista mesmo o tal “golpe”, onde a senhora pretende se refugiar? Em Cuba? Venezuela? Que tal a embaixada da Coréia do Norte, que sabe lá por que cargas d’água o governo de Vossa Excelência enfiou em Pyongyang com o dinheiro do trabalhador brasileiro?

Também tô ouvindo uns senadores aí que só incensam Vossa Excelência, dizendo que seu governo fez isso, fez aquilo, fez aquilo outro, o caralho a quatro. Qual o cu de dificuldade que há em tomar o dinheiro do povo e dar umas migalhinhas de volta em Bolsa isso, cota aquilo, ciclofaixa aquilo outro, uns lajotes pra morar lá na PQP, umas migalhinhas de programas que sairiam muito mais barato se o próprio povo pagasse diminuindo os impostos e escolhendo onde quer colocar o dinheiro, do que ter de pagar seus luxos em suíte Tiffany (R$ 22 mil por dia) e o cabidão dos seus apaniguados, de quebra ainda formando um curral eleitoral que acredita que Vossa Excelência dá casa pra eles do próprio bolso?

Teve até uma loirinha aí que fala leiTE quENTE achando que seria um absurdo Vossa Excelência cumprir a lei e os pareceres do Tribunal de Contas da União, ao invés de torrar tudo até a última ponta pra ganhar mais voto. Isso não é uma confissão de culpa, Vossa Excelência?

Tem mais uma coisa, Vossa Excelência. Vossa Excelência contou quantas vezes se confundiu com a própria democracia e afirmou que te responsabilizar pelo que Vossa Excelência tem responsabilidade é “golpe parlamentar”? Exatamente 982387319128742387312951 vezes. Vossa Excelência espera conseguir finalmente convencer alguém além de seu eleitorado lobotomizado na 982387319128742387312952.ª vez?

Por fim, Vossa Excelência fala, sem citar em que puto de parágrafo isso tá nessa Constituição que o Capiroto ele próprio enfiou no nosso rabo sem cuspe que o bagulho mesmo é convocar nossas eleições, blá blá blá.

Vossa Excelência pretende nos agraciar com seu terceiro mandato concorrendo nessas eleições?

Obrigado.”

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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