A jornalista que adorava um negão
Leda saiu da faculdade e foi direto para o samba. E assim confirmou Morgan Freeman: o racismo desaparece quando você pára de falar nele
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Morgan Freeman e eu achamos que não se deve ficar falando sobre racismo. Não porque não exista, mas porque alimentar rancor apenas produz ódio. Ódio de tudo que é lado.
Quando este tema surge, sempre me recordo do caso da Leda – que, obviamente, não se chama Leda: Jornalista desde os vinte e poucos anos, enviuvou cedo, aos quarenta e tantos, na distante década de oitenta. Passado o luto razoável e respeitoso, Leda foi para o samba e se tornou habitué das quadras da Portela e da Mangueira.
E foi nessa fase da vida que Leda, loira original de fábrica, com pelos pubianos e sobrancelhas combinando, descobriu que gostava de namorar sambistas.
Claro que isso gerou um sem número de piadas preconceituosas, tanto no círculo familiar quanto na esfera profissional. Mas ela, independente, livre e desimpedida, pouco se importava com os comentários, e ainda dizia para os mais íntimos:
“Eu gosto mesmo é de um negão.”
Assim, exatamente assim, Leda tocou a vida: Sem alarde, sem choradeira, sem amargor. Sem ligar pro disse-me-disse que sempre brota das bocas das gentes.
A propósito, Leda nunca mais se casou, e, graças a Deus, ainda está viva.
Vivinha da silva!
Leda concorda plenamente comigo e com Morgan Freeman.
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