A ampla janela do Leblon: Veredas
Em entrevista, militante ultra esquerdista Marcelo D2 diz que está cansado do Brasil e que quer morar “no meio mato”. Na Califórnia. Cuba tem internet bloqueada, infelizmente
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Há uma tara que nenhum ultra esquerdista radical que se preza abandona: é o capitalismo. São os demônios do desejo que invadem as noites meladas de quem acha que o Estado deve organizar rigidamente a sociedade.
Ao acordar, passam os olhos pela foto icônica de Che, pelo bibelô de Stalin, caminham até a cozinha projetada em espaço aberto e preparam um café na sua cafeteira automática turbo de seis válvulas. Com a xícara na mão, dirigem-se à varanda gourmet e sentam-se no futon de lá da malásia, o coração pulsando a mil e na cabeça, um único pensamento, obsessivo, martelante: os Estados Unidos da América.
Os Eua são a representação da tara, do fetiche, do seu voyeurismo econômico e geográfico. São tudo aquilo que eles devem negar drasticamente. Só é permitido falar deles em público com indignação e repulsa. A americafobia esquerdista é apenas a máscara que esconde o apetite intenso, a fome voraz que todo fã de Fidel tem quando vê um M estilizado ou as palavras Coca e Cola escritas como num manual futurista de ortografia.
O corpo estremece, a boca seca. Retomando a consciência, o esquerdista precisa expulsar o pecado da mente e, como penitência, vai ao Twitter elogiar o MTST, por exemplo, ou vai dizer que a luta contra as drogas é falsa, como fez Marcelo D2 em entrevista recente para O Globo.
Na mesma conversa, D2 disse estar cansado do Rio de Janeiro. Em tom poético marginal, o entrevistador, sempre que podia, comparava a ampla janela do apartamento que D2 mora no Leblon, de onde observa a vista para criar seus latejos, com as janelas virtuais de seu computador. Uma metáfora que só ocorre aos gênios mesmo.
Janela aberta pela pandemia, religiões de matriz africana, ódio e empatia, todo o arcabouço gramatical ultra esquerdista está lá. Como bom filho de Marx, nosso herói “numa nice” só saiu de casa para fazer shows em locais seguros, claro. É o fique em casa e deixe que a equipe de som morra por você.
Já que o Rio não extrai o melhor de D2, esquerdista radical que luta pelo fim das injustiças, é melhor ir morar no mato:
“Estou bem desiludido. A política do Rio massacra o que o carioca tem de melhor, e isso está me deixando bem triste. Não que já tenha sido muito melhor ou pior, não era uma Suíça há cinco ou dez anos, mas com o tempo eu tenho lutado contra essa falsa guerra às drogas e nada, tudo isso me deixa num lugar de desesperança. Eu quero morar no meio do mato. Na Califórnia, seria isso, perto de Los Angeles, mas no meio do mato, é o que eu estou buscando para mim.”
O mato civilizado é melhor, sempre melhor que o nosso. O mato cercado por uma cultura capitalista então… São os velhos demônios do desejo, a tara sempre renovada por sonhos intranquilos, libidinosos.
Em determinado momento da entrevista, ao ser perguntado se o disco que acabou de gravar foi todo feito à distância, nosso herói doidão comentou que só recebeu uma pessoa, o baterista do Planet Hemp, para gravar sua voz: “eu estava com medo de fazer sozinho e ficar ruim”. O medo do vírus só não é maior do que o de ficar com uma voz meia sola no disco, naturalmente.
Vilém Flusser, num livro sobre religiosidade, diz que “o significado da vida pode ser a superação do Eu e sua diluição na imensidão do sacro”. Todo artista digno desse rótulo sacrifica seu Eu, ainda que não o supere, pela sua arte, ainda que não a divinize. Mas essa é a posição do homem na imensidão do sacro, é sempre uma atitude transcendente, religiosa, que leva o artista a imitar a criação.
O artista brasileiro, ideologizado até a mais secreta prega do ânus, sem nenhuma noção de sacrifício, veste um manto de pérolas para esconder sua mais íntegra indigência. É preciso uma janela ampla no Leblon, uma varanda gourmet nos Jardins. É preciso emular os trejeitos da profundidade e fraudar o peso da sensibilidade.
Ao ouvir um desses artistas falando de sua própria obra, como D2 na entrevista, tem-se a impressão de estarmos diante de um Dante, um Homero. Ao tomarmos contato com a obra, vemos uma representação infantil e mal ensaiada de uma dança da chuva.
Marcelo D2 está pessimista, pois, segundo ele, o vírus revelou o pior do ser humano. É justamente contra o pior do ser humano, contra seus instintos mais primitivos, que a arte e a religião genuínas lutam. Contra tudo o que um Marcelo D2 defende.
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